Quando menos percebi ela já estava ali e com o tempo vi que estava desde que nasci. ou melhor, antes mesmo da minha mãe nascer. Sua presença me dava segurança e me fazia sentir a criança mais feliz do mundo. Jamais vou me esquecer dos seus olhos tão caidinhos quanto os meus, das suas unhas quase sempre pintadas de vermelho e daquela mão que fazia a melhor comida que meu paladar já experimentou.
Daquele coração que sempre recebia em casa toda a família pra confraternizar e ficar junta por aquele momento, valorizando tudo que temos de melhor e de quando nos arrumava pra ir pra escola, sempre com muito capricho e dedicação.
De quando, apesar das suas limitações, me ensinava a tarefa e a fazia comigo, nem que seja pra colar os feijões no papel e colorir dentro. Lembro de, na pressa, assoprar a comida misturada com banana para que não queimássemos a boca, e vira e mexe por me defender das garras da primogênita e me paparicar mais que tudo, sem contar de secar os milhares de copos de suco que eu sempre insistia em derramar na mesa.
Ainda me recordo das manhãs que passava em volta do fogão interrogando-a como se faz isso ou aquilo. E de sempre lavar as louças, pois naquela época sua saúde já estava frágil. Mas de fazer comida ela jamais abria mão. Ninguém podia mexer nas panelas que eram dela.
As vezes ainda me vejo deitado no sofá e ela na sua cadeira laranja roncando, mas insistindo em assistir todos os programas que passavam a tarde e prorrogando aquela ação até o fim da novela das 8. Recordo das brincadeiras de cócegas e tapas (ela em mim claro) e da quantidade de quilômetros que andei pra buscar gelo na geladeira quando ela não podia beber água nas tardes quentes de verão.
Lembro de dormir (as vezes que minha irmã deixava) na cama com ela. O calor era diferente e me fazia adormecer como um pintinho em baixo da asa da galinha.
Me faz o ser humano mais feliz do mundo saber que fiz o que pude por ela. E que a última vez que ela cozinhou, foi um prato que há tempos eu queria comer e nesse dia ela resolveu fazer pra gente. Só eu e ela na cumplicidade de avó e neto que sempre tivemos.
Não esqueço do último olhar, da despedida dolorosa, de tudo.
Não da pra esquecer. Assim que me lembro dela. Talvez seja mais mãe que minha próprima mãe, porque era duas vezes. Quem a conheceu jamais esquece da Iris, da Gorda, da Tia Pretinha, da minha vó. Minha que um dia partilhei com a Isis, com o Gustavo e com o Caio. Nossa vó, ou vovó como era chamada pelos menores.
Hoje fazem 6 anos que não estamos juntos em corpo e convivência, mas a amo da mesma forma(ou mais), sinto falta e sei que vamos nos encontrar um dia.
Fica aqui minha homenagem de um coração sem vó.
2 comentários:
Um coração sem vó... talvez seja um coração condenado a boas lembranças e saudades dolorosas durante todo o tempo que fazer tun, tun... tun, tun...
Gui, lindo sua mensagem, so quem passa sabe como e dizer Adeus as pessoas que mas amamos...Pode ter certeza que ela esta de dando forca a onde ela esteja..beijos
Postar um comentário