terça-feira, 7 de julho de 2009

Acaso

Não era a primeira vez que Marcos e Leonardo se estranhavam.
O gosto da cerveja amarga na boca os deixaram muito mais homens para levar adiante aquela discussão, que ali mesmo no boteco tomara proporções inesperadas.
Tudo começara com uma conversa que fora se agravando, e sem perceber já estavam berrando, gritando impropérios e insultos que seriam dispensados caso uma conversa anterior àquela tivesse acontecido.
Leonardo nunca tivera tempo para parar e conversar com Marcos, saber sua opinião e trocar experiências. As vezes a correria da vida os impedia de reservar esse tempo precioso. Agora não adiantava mais. Não teve como voltar atrás. O sangue já escorria pela testa. Marcos nunca imaginara que um dia seria atingido de tal forma. Não pela garrafa de vidro quebrada, mas atingido na alma. Machucado, seu coração batia ritmado pelo som sertanejo que tocava ali.
As pessoas do local ficaram desesperadas, pois já era de costume ver os dois acompanhados tomando cerveja, ora jogando bilhar, fumando e rindo com conversas longas e com vários assuntos, que corriqueiramente fazem parte do cotidiano.
Não houve outra alternativa a não ser chamar a polícia, que levou Marcos para o hospital, onde passou horas aguardando na fila, embriagado. Depois de suturado foi para a mesma delegacia que estava Leonardo e obrigado a olhar novamente para o rosto daquele que jamais imaginara ter atitudes tão violentas e inconsequentes.
Amanheceu o dia e logo foram liberados. Na verdade ninguém buscou-os, pois era de costume passarem algumas noites juntos sem dar notícia pra ninguém. Cada um para seu rumo.
Aquele dia pareceu o mais pesado de todos. Como duas pessoas que se amam tanto poderiam brigar daquela forma, sem pensar nas consequências de seus atos?
Alguns dias se passaram, se viam mas não se falavam. Porém, o Sr. Tempo se encarregou de aos poucos abrandar o coração dos dois, que sem conversar sobre o ocorrido voltaram a se falar, conviver normalmente como se aquela situação não tivesse acontecido jamais. Inclusive, passaram novamente a frequentar o mesmo boteco que outrora assistiu à briga dos dois.
Quem dera todo amor fosse tão altruísta e incondicional quanto o de pai e filho.

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