77 anos. Maria (como muitas Marias) percebeu que viveu a sua vida em função dos outros. Com 7 filhos, 14 netos e 2 bisnetos vivia há quatro anos amargando a solidão após a morte tão triste de seu companheiro de vida.
Seus filhos ficavam preocupado e diziam que ela não poderia viver dessa forma. Mas não era escolha. Era como se tivesse perdido um braço, uma perna, um pedaço.
Sua vida era fazer o que sempre gostava, mas ainda sim sentindo falta. O feirante que sempre agradou ao Sr. João com verduras frequinhas, o banco da missa que agora não tinha mais ele ao seu lado, a cama que estava vazia e o retrato do casamento dos dois na parede, daqueles em que as fotos eram praticamente desenhos sempre a faziam lembrar do quanto tinha sido feliz.
Todos os dias que rezava, lembrava-se do marido. Sabia que a morte era algo que um dia os separaria e era conformada com isso. Se não fosse ele, seria ela. Por isso, suplicava sempre por conseguir superar cada dia de uma forma melhor.
Apesar do amor, lembrou-se um dia do quanto casou cedo e o quanto a vida de dona de casa a privara de viver seus sonhos, de dançar várias horas com pessoas diferentes, de sentir o prazer de ir aos bailes mais bonita que pudesse sem ser alvo de ciúmes e desconfiança, de curtir a vida de uma forma diferente.
Estava ali. Mesmo com as pernas tremendo e o coração disparado sabia que sua saúde iria aguentar, afinal seu médico mesmo lhe dissera: "Saúde de 30."
O gosto da liberdade que experimentava nesse voo de asa delta era indescritível. Sentia-se livre como nunca. Experimentava naquele momento a liberdade de um pássaro como jamais tivera antes. Nesse momento pensou na vida e chegou à conclusão de que ainda dá tempo, desde que se dê a chance de ser feliz mais uma vez.
Cartas para minha mãe. Um.
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Eu te perdi e ainda nem sei o quanto mesmo eu perdi. Todo dia eu descubro
um pouco mais a dimensão da minha perda… a melhor rabanada do mundo. O amor
mais ...
Há um ano
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