domingo, 12 de julho de 2009

O preço da indiferença

Nada de diferente. O metrô mais cheio que nunca e o gosto do café preto amanhecido e esquentado no micro-ondas ainda na boca. Aquela falação e agitação das domésticas que passam em média 1 hora do trajeto de casa para o trabalho já não a incomodava mais.
Estava cansada de todo dia a mesma rotina, o mesmo trabalho, as mesmas pessoas. A única coisa que sabia era que precisava de férias. Individualista e preocupada somente com o que queria e aonde queria chegar, não se importava muito com as outras pessoas que estavam ao redor, afinal, ninguém se preocupava com ela.
De repente começa uma gritaria imensa no vagão que estava. Lá na frente viu que uma multidão se aglomerava em cima de uma mulher que estava caída no chão. Não dava pra ver a mulher. Ainda bem! Não suportava ver pessoas passarem mal. Não era a primeira vez que isso acontecia no metrô. Aliás, todos os dias acontecia. Chegando na estação desceu o mais rápido que pôde, nem se preocupou em saber com o ocorrido. Estava atrasada demais para isso e não poderia pagar o pato por um problema que não era seu.
Chegou ao trabalho como sempre. Novamente as mesmas pessoas. A recepcionista com sua cara de merda mas voz simpática (e forçada) para atender o telefone, o ascensorista com seu bom dia monótono e cada pessoa que estava ali dentro sempre concentrada no monitor que indica o andar. Tudo tão automático.
A sua mesa tinha, como sempre, uma montanha de papéis para analisar e devolver aos clientes que, de alguma forma, tentavam conseguir financiar seus sonhos. Alguns casamentos, outros carro, casa ou até viagens e intercâmbios.
-Alô?
Era sua mãe. Não conseguia entender nada que ela estava falando. Cheia de dúvidas, saiu correndo dali com autorização do chefe, que naquele dia percebeu uma verdadeira preocupação daquela jovem tão constante e indiferente.
Três horas da tarde. Era pra estar no trabalho aguardando as duas horas e meia restantes de trabalho que a proporcionaria mais um dia terminar a sua rotina. Mas agora estava ali, recebendo abraço de vários conhecidos e desconhecidos que a consolavam pela morte da irmã que sofrera um infarto fulminante no vagão de um metrô. O cheiro das flores fúnebres e o calor das velas que queimavam a faziam arrepender e ver o quanto é caro o preço da indiferença.

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