segunda-feira, 27 de julho de 2009

Filosofando

Um dia na aula de filosofia, filosofamos sobre presença e ausência e isso me marcou muito.
A ausência não é nada mais que a própria presença. Só sabemos que existe ausência a partir do momento que sentimos a falta da presença. Portanto, mesmo ausente estarei presente na Rua Verde e ela em mim.
Breve volto a passear.
As vezes é importante estar dentro de casa do que simplesmente passeando constantemente.
Não seria vida curta, só intervalo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Essa gripe

Essa gripe é pior que um pesadelo.
Conseguindo me limitar a fazer o que mais gosto.
E com tamanha ansiedade e inconstância, que o corpo reage inversamente à vontade e padece.
Quem dera fosse igual à dor de amor e nos fizesse refletir,
e escrever,
e desenhar,
e criar.
O que eu mais quero é que passe.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ainda dá tempo

77 anos. Maria (como muitas Marias) percebeu que viveu a sua vida em função dos outros. Com 7 filhos, 14 netos e 2 bisnetos vivia há quatro anos amargando a solidão após a morte tão triste de seu companheiro de vida.
Seus filhos ficavam preocupado e diziam que ela não poderia viver dessa forma. Mas não era escolha. Era como se tivesse perdido um braço, uma perna, um pedaço.
Sua vida era fazer o que sempre gostava, mas ainda sim sentindo falta. O feirante que sempre agradou ao Sr. João com verduras frequinhas, o banco da missa que agora não tinha mais ele ao seu lado, a cama que estava vazia e o retrato do casamento dos dois na parede, daqueles em que as fotos eram praticamente desenhos sempre a faziam lembrar do quanto tinha sido feliz.
Todos os dias que rezava, lembrava-se do marido. Sabia que a morte era algo que um dia os separaria e era conformada com isso. Se não fosse ele, seria ela. Por isso, suplicava sempre por conseguir superar cada dia de uma forma melhor.
Apesar do amor, lembrou-se um dia do quanto casou cedo e o quanto a vida de dona de casa a privara de viver seus sonhos, de dançar várias horas com pessoas diferentes, de sentir o prazer de ir aos bailes mais bonita que pudesse sem ser alvo de ciúmes e desconfiança, de curtir a vida de uma forma diferente.
Estava ali. Mesmo com as pernas tremendo e o coração disparado sabia que sua saúde iria aguentar, afinal seu médico mesmo lhe dissera: "Saúde de 30."
O gosto da liberdade que experimentava nesse voo de asa delta era indescritível. Sentia-se livre como nunca. Experimentava naquele momento a liberdade de um pássaro como jamais tivera antes. Nesse momento pensou na vida e chegou à conclusão de que ainda dá tempo, desde que se dê a chance de ser feliz mais uma vez.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O peso na mala

Muitas pessoas se acovardam. Talvez pela reação do outro ou pela reação de si mesmo. Fábio não imaginou que Mariana ia fazer daquela forma com ele. Ainda mais depois de apenas 1 ano de casamento. Pra quê então todos aqueles gastos com uma festa tão requintada e cara?Só para encher a pança de comida e a cara de bebida daquela parentada idiota e hipócrita?
Um telefonema e um adeus. Aos prantos, Mariana falou o que não teve coragem de dizer pessoalmente: "Está tudo acabado!". Estranho como na noite anterior ela dormiu como se nada tivesse acontecido. Será que ela teria outro? Seria isso só um momento de estresse, de TPM?
Nenhuma das respostas poderiam ser respondidas tão rapidamente, ia precisar de tempo para entender um fim tão rápido e inesperado.
Chegou em casa à meia-noite. Diferente de muitos que se embriagam e se escoram nos amigos, somente andou pela orla da praia, sozinho, bebendo água de coco e imaginando o que teria acontecido ou o que teria feito de errado.
Esperou por dias. Sempre imaginava que de repente Mariana entraria pela porta dizendo que estava arrependida e que o lado do armário que pertencia a ela, onde agora estava somente com cabides, se encheria novamente na mesma proporção que a alegria voltaria a reinar naquele local, que um dia fora o tão sonhado ninho de amor.
Não teve coragem de ir à casa da sogra procurar pela amada, nem muito menos ligar para a casa daquela que, desde o início, tanto atrapalhou a vida e os sonhos daquele casal. Tudo indicava que Mariana tinha planejado tudo, até seu telefone celular já não existia mais.
Sentiu que a perda era imensurável, mas acima de tudo optou por não sofrer apesar de ainda amá-la. Resolveu mudar-se.
Saindo do apartamento, olhou pra trás e acima da dor, lembrou-se do que um dia Vinícius de Moraes disse no Soneto de Fidelidade: "Que não seja eterno, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure". E aquele era o momento do fim do infinito amor por Mariana. Levava na mala o peso da sensação de talvez nunca ter encontrado o amor em sua vida. Mas não era exatamente isso. Um dia reconheceu que o amor próprio vem antes de qualquer amor. E que o tempo, a distância e outro amor podem aliviar dores e transpor barreiras de amores mal sucedidos.


domingo, 12 de julho de 2009

O preço da indiferença

Nada de diferente. O metrô mais cheio que nunca e o gosto do café preto amanhecido e esquentado no micro-ondas ainda na boca. Aquela falação e agitação das domésticas que passam em média 1 hora do trajeto de casa para o trabalho já não a incomodava mais.
Estava cansada de todo dia a mesma rotina, o mesmo trabalho, as mesmas pessoas. A única coisa que sabia era que precisava de férias. Individualista e preocupada somente com o que queria e aonde queria chegar, não se importava muito com as outras pessoas que estavam ao redor, afinal, ninguém se preocupava com ela.
De repente começa uma gritaria imensa no vagão que estava. Lá na frente viu que uma multidão se aglomerava em cima de uma mulher que estava caída no chão. Não dava pra ver a mulher. Ainda bem! Não suportava ver pessoas passarem mal. Não era a primeira vez que isso acontecia no metrô. Aliás, todos os dias acontecia. Chegando na estação desceu o mais rápido que pôde, nem se preocupou em saber com o ocorrido. Estava atrasada demais para isso e não poderia pagar o pato por um problema que não era seu.
Chegou ao trabalho como sempre. Novamente as mesmas pessoas. A recepcionista com sua cara de merda mas voz simpática (e forçada) para atender o telefone, o ascensorista com seu bom dia monótono e cada pessoa que estava ali dentro sempre concentrada no monitor que indica o andar. Tudo tão automático.
A sua mesa tinha, como sempre, uma montanha de papéis para analisar e devolver aos clientes que, de alguma forma, tentavam conseguir financiar seus sonhos. Alguns casamentos, outros carro, casa ou até viagens e intercâmbios.
-Alô?
Era sua mãe. Não conseguia entender nada que ela estava falando. Cheia de dúvidas, saiu correndo dali com autorização do chefe, que naquele dia percebeu uma verdadeira preocupação daquela jovem tão constante e indiferente.
Três horas da tarde. Era pra estar no trabalho aguardando as duas horas e meia restantes de trabalho que a proporcionaria mais um dia terminar a sua rotina. Mas agora estava ali, recebendo abraço de vários conhecidos e desconhecidos que a consolavam pela morte da irmã que sofrera um infarto fulminante no vagão de um metrô. O cheiro das flores fúnebres e o calor das velas que queimavam a faziam arrepender e ver o quanto é caro o preço da indiferença.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Na fila do banco

Ela não acreditava que havia deixado pra ir ao banco justo no 5º dia útil. A fila preferencial era tão enorme quanto a sua, que andava a passos de tartaruga ou até mais devagar. Nervosa por ver que havia somente dois bancários para atender toda aquela multidão sedenta para honrar seus compromissos bancários a tempo de voltar antes do término do horário de almoço. Lhe disseram que a agência era pequena e não tinha como contratar mais ninguém. Se a conta não tivesse vencida e sua mãe não fosse encher tanto o saco, talvez ela desistiria.
Entre o olhar do relógio e as pessoas que ali estavam, percebeu um garoto que deveria ter no máximo 18, de mochila, boné, calças largas e tênis. Pelo tanto de contas que carregava deveria ser office boy. Engraçado como ele lhe prendia atenção.
Embargada em seus pensamentos, viajava no sorriso do garoto, no movimento que ele fazia com a cabeça ouvindo seu MP3 que, pelo estilo dele, deveria tocar Fresno, Pitty ou NX Zero. E mesmo sabendo que todas as tardes esse mesmo cara poderia se distrair com Malhação ou ficar horas navegando na internet nos seus sites de relacionamentos e jogos online, não conseguia desviar o olhar tão fixo no seu objeto de desejo, tanto que até começava a imaginar se as pessoas notavam sua atitude.
Isso não poderia estar acontecendo com ela. Tão tradicional, acostumada a namorar caras mais experientes e tendo a idade pra ser irmã mais velha do garoto, jamais imaginara que um dia sentiria uma vontade tão profunda de estar com um garoto daquela idade.
Agora a fila parecia voar, pois estava distraída e sentindo um prazer enorme com sua observação. Seria essa ação motivada pela noite anterior? Deveria ser, não era a primeira vez que dormira morrendo de ódio do seu namorado que mais uma vez fizera 10 minutos de sexo e dormira após se satisfazer como se estivesse com uma boneca inflável.
Duas horas depois ela estava perplexa. Perplexa mas nenhum pouco arrependida. Parada no sinal, não acreditou que um dia teria a coragem de ir parar num drive in com um garoto que por esse pequeno espaço de tempo foi muito mais que uma simples distração enquanto aguardava na fila do banco.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Acaso

Não era a primeira vez que Marcos e Leonardo se estranhavam.
O gosto da cerveja amarga na boca os deixaram muito mais homens para levar adiante aquela discussão, que ali mesmo no boteco tomara proporções inesperadas.
Tudo começara com uma conversa que fora se agravando, e sem perceber já estavam berrando, gritando impropérios e insultos que seriam dispensados caso uma conversa anterior àquela tivesse acontecido.
Leonardo nunca tivera tempo para parar e conversar com Marcos, saber sua opinião e trocar experiências. As vezes a correria da vida os impedia de reservar esse tempo precioso. Agora não adiantava mais. Não teve como voltar atrás. O sangue já escorria pela testa. Marcos nunca imaginara que um dia seria atingido de tal forma. Não pela garrafa de vidro quebrada, mas atingido na alma. Machucado, seu coração batia ritmado pelo som sertanejo que tocava ali.
As pessoas do local ficaram desesperadas, pois já era de costume ver os dois acompanhados tomando cerveja, ora jogando bilhar, fumando e rindo com conversas longas e com vários assuntos, que corriqueiramente fazem parte do cotidiano.
Não houve outra alternativa a não ser chamar a polícia, que levou Marcos para o hospital, onde passou horas aguardando na fila, embriagado. Depois de suturado foi para a mesma delegacia que estava Leonardo e obrigado a olhar novamente para o rosto daquele que jamais imaginara ter atitudes tão violentas e inconsequentes.
Amanheceu o dia e logo foram liberados. Na verdade ninguém buscou-os, pois era de costume passarem algumas noites juntos sem dar notícia pra ninguém. Cada um para seu rumo.
Aquele dia pareceu o mais pesado de todos. Como duas pessoas que se amam tanto poderiam brigar daquela forma, sem pensar nas consequências de seus atos?
Alguns dias se passaram, se viam mas não se falavam. Porém, o Sr. Tempo se encarregou de aos poucos abrandar o coração dos dois, que sem conversar sobre o ocorrido voltaram a se falar, conviver normalmente como se aquela situação não tivesse acontecido jamais. Inclusive, passaram novamente a frequentar o mesmo boteco que outrora assistiu à briga dos dois.
Quem dera todo amor fosse tão altruísta e incondicional quanto o de pai e filho.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tentar, arriscar, tentar

Tentar é a palavra certa.
Certa pra quê?
Vivemos tentando buscar o que não sabemos se queremos ou precisamos.
E se sabemos, será mesmo que sabemos? E seria realmente o que queremos?
Empego novo, casa nova, carro novo, tudo novo.
Será que é o novo que satisfaz?
Se fosse sempre, comida de vó não seria a melhor, nem all star novo machucaria tanto.
Tantas vezes em busca de tudo que pode se tornar nada rapidamente.
Frustração, decepção, angústia, medo do novo.
Mas a arte da vida é tentar, assumir riscos.
50% de chance: dar certo ou não.
Isso até diferencia as pessoas: quem arrisca precipitadamente, quem arrisca tarde demais, quem arrisca na hora certa, quem não arrisca.
Existe arriscar na hora certa?
Vai saber.
Ninguém sabe explicar se a vida é movida por sorte ou acaso.
Tentar, arriscar, tentar.

Caminham por aqui.